Crítica | Amazônia

A coprodução franco-brasileira Amazônia, em 3D, é um espetáculo visual diferente do que usualmente vemos no cinema. Além de encantador, o projeto é ousado, uma vez que ao longo de 80 minutos o espectador não ouve nenhum diálogo, apenas o som da natureza. A linguagem criada para o filme está mais para os documentários do canal Discovery do que para o cinema ocidental. O que pode ser um problema para um público acostumado com uma exibição verborrágica.

Com o argumento de um macaco adestrado perdido na floresta Amazônica, o roteirista Luiz Bolognesi (Uma História de Amor e Fúria) constrói uma história baseada num estudo científico sobre a readaptação dos animais no seu meio ambiente de origem e sobre a socialização deles numa cultura diferente. O filme é muito claro nessa abordagem antropológica do animal, apresentando diversas experiências e adversidades do pequeno macaco na selva amazônica.

O protagonista é magnífico. O trabalho realizado com o macaco, ou melhor, macacos – foram usados no total de quatro animais para o mesmo personagem – é fabuloso, de forma que conseguimos entender perfeitamente o que se passa com ele por meio das suas expressões, por vezes tão humanas. Os sentimentos de espanto, dúvida, medo e preocupação são visualmente destacados sem a necessidade de uma narrativa em off para explicar a sucessão de sensações do macaquinho.

A produção levou três anos para gravar todas as cenas, o longo tempo compensa em tomadas reais de interação entre o macaco e outros animais da floresta, como a onça, o boto cor-de-rosa e os outros macacos de sua própria espécie, conhecida como macaco prego. É difícil entender como tudo foi filmado e o quando daquilo é captação do real ou montagem cênica. O trabalho de edição consegue compôr um quebra-cabeça muito bem engendrado para não deixar o espectador fugir do momento de imersão e magia.

Acompanhar um macaco prego na floresta pode ser fantástico, mas também sonolento, já que nem todas as suas ações são tão emocionantes assim. O roteiro dá direito a momentos de alucinação do personagem principal ao ingerir um cogumelo no meio do caminho, a luta pelo alimento e a disputa de uma fêmea com o macho alfa da sua espécie, mas tudo isso pode se tornar chato, se você não estiver tão interessado e observar a vida na Amazônia.

Apesar de todas as cenas deslumbrantes, como a caça de gavião e o caminhar de caracol, Amazônia comete seus deslizes, principalmente, no início. Para trazer o macaco até a floresta, o roteiro corre e deixa as circunstâncias muito mal filmadas e soltas.

Tudo bem, esse não é o ponto relevante da história, mas no cinema todas as arestas precisam estar bem amarradas para ocorre o espetáculo. Conhecido pelo seu viés crítico, vide Terra Vermelha (2008) e Bicho de Sete Cabeças (2002), Bolognesi não deixa de fora um pouco da crítica social sobre o desmatamento florestal, mesmo que representado pelo olhar de um macaquinho prego.

* O filme conferido para crítica foi exibido na cabine do Festival do Rio em setembro de 2013, sem dublagem dos personagens. 

Nota: 3.5

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