Crítica | Marcelo Yuka no Caminho das Setas

“Eu não sei muito bem o que aconteceu. Só sei que sou baterista, tomei nove tiros, tô paraplégico e minha vida acabou”, declara Marcelo Yuka no documentário que conta a sua trajetória artística e a sua luta atrás de um tratamento para sair da cadeira de rodas. Com base nesses dois pontos chaves, Daniela Broitman (Meu Brasil, 2007) montou uma representação da vida do ex-baterista de O Rappa, em Marcelo Yuka no Caminho das Setas.

Pelo ponto de vista técnico, o documentário deixa a desejar, com cortes básicos, planos muito fechados e pouca dinâmica de câmera. Pela perspectiva do envolvimento com a história, no entanto, a obra prende a atenção do espectador e fala sobre os detalhes do incidente, os anseios, os medos e as esperanças do compositor.

O pontapé inicial dessa narrativa traçada por Daniela é exatamente a fatalidade que aconteceu com músico no ano de 2000. A partir daí vemos como foi o sucesso da banda O Rappa e as letras compostas por Marcelo na boca de milhares de pessoas. No auge da carreira, o músico tem o azar de receber nove tiros e nunca mais poder voltar a andar. É curioso acompanhar a forma que Yuka passa lidar com sua limitação e como a sua carreira vai se remodelando.

O grande desafio desse documentário é apresentar a imagem do artista sem torná-lo uma vítima tanto da violência urbana quanto da incompreensão por parte da sua antiga banda. Mas não consegue. Um dos pontos mais polêmicos após a tragédia, a saída da banda, é explicado detalhadamente, suprindo a curiosidade dos fãs e espectadores por uma justificativa, mas acaba criando mocinhos e vilões.

A metade do filme apresenta novos rumos dessa história, mostrando a inconformidade do músico e seus trabalhos posteriores, desde a sua segunda banda F.UR.TO até o seu CD solo, que já perdura por oito anos em estúdio. Grande parte dessa imersão na vida de Marcelo é acompanhá-lo na fisioterapia, no seu estúdio, no seu trabalho social e se emocionar com as declarações sobre o seu maior sonho ainda a se realizar.

O documentário transparece o talento artístico de Yuka e somos arrebatados em algumas cenas com as suas declarações, que só reforçam o quanto o cara é bom com as palavras. “Existe um momento em que todo mundo diz que você é foda, se você acreditar está ferrado”, diz Marcelo durante o documentário, mostrando com franqueza seu olhar sobre a fama. Ela busca ainda uma companheira, mas se depara com a dúvida sobre se as mulheres se aproximam dele Marcelo Fontes do Nascimento Viana de Santa Ana ou do mito Marcelo Yuka.

A produção é sobre o mito e recheada de resquícios do homem de Campo Grande, subúrbio do Rio de Janeiro. Apesar do pouco dinamismo, o documentário realiza um bonito registro sobre um dos destaques da música brasileira, nos remetendo um pouco ao filme Herbert De Perto (2009), mas bem diferente esteticamente. Com a participação dos cantores Manu Chao e Cibelle, Marcelo Yuka no Caminho das Setas também é um bom entretenimento para os amantes da música.

Nota: 3

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